26/11/2009

Sobre a Sua Vida Cotidiana

Quantas horas por dia você gasta na frente de uma tela de televisão? E de uma tela de computador? E atrás da tela pará-brisa de um carro? E das três juntas? O que está atrás destas telas? Quanto da sua vida chega a você por meio de uma tela, de segunda mão?


Assistir as coisas é tão excitante quanto fazê-las? Você tem tempo suficiente para fazer todas as coisas que quer? Você tem energia para isso? Por que? E quantas horas por dia você dorme? Como você é afetado pelo tempo padronizado, projetado unicamente para sincronizar seus movimentos com os daqueles milhões de outras pessoas? Quanto tempo você passa sem saber que horas são? Quem ou o quê controla seus minutos e horas? Os minutos e as horas totalizam a sua vida? Você está poupando tempo? Poupando pra quê?


Você consegue colocar um valor num dia lindo, quando os pássaros estão cantando e as pessoas andando por aí juntas? Quantos dólares por hora custam para que você fique enfurnado e venda coisas ou arquive papéis? O que você consegue obter depois para compensar por mais esse dia da sua vida?


Como você é afetado por estar no meio da multidão, por estar cercado por massas anônimas? Você se surpreende bloqueando reações emocionais a outros seres humanos? E quem prepara suas refeições? Você já comeu sozinho? Você já comeu de pé? Quanto você sabe sobre o que você come e de onde a comida vem? Quanto você confia no que você sabe?


Do que somos privados por tecnologias poupadoras de trabalho? Por aparelhos que poupam nosso pensamento? Como você é afetado pelas demandas de eficiência, que colocam valor no produto em detrimento do processo, no futuro em detrimento do presente, o momento presente que está ficando cada vez mais curto na medida em que aceleramos cada vez mais em direção ao futuro? Estamos acelerando em direção ao quê? Estamos poupando tempo? Poupando para quê?



Como te afeta o fato de você ser movido por aí em caminhos prescritos, em elevadores, ônibus, metrôs, escadas rolantes, rodovias e calçadas? Por se mover, trabalhar e viver em redes bi – e tri – dimensionais? Como você é afetado por estar sendo organizado, imobilizado e planejado ao invés de vagar, perambulando livre e espontaneamente? Ou vasculhando? (Ou talvez furtando)? Quanta liberdade de movimento você tem – liberdade para se mover através do espaço, tão longe quanto você quiser, em novas e inexploradas direções?


E como você é afetado por esperar? Esperar na fila, esperar no trânsito, esperar para comer, esperar pelo ônibus, esperar para urinar – aprendendo a punir e ignorar seus impulsos espontâneos? Como você é afetado por conter seus desejos? Pela repressão sexual, pelo atraso ou negação do prazer, começando na infância, juntamente com a supressão de tudo em você que é espontâneo, tudo que evidencia sua natureza selvagem, seu estatuto de pertencente ao reino animal? O prazer é perigoso?


Poderia o perigo ser prazeroso? Você já precisou olhar pro céu? (Consegue ainda ver muitas estrelas nele?) Você já precisou ver a água, as folhas, a vegetação, animais? Cintilando, luzindo, se movimentando? Será essa a razão pela qual você tem um animal de estimação, um aquário, plantas caseiras? Ou a sua televisão já está cintilando, luzindo e se movimentando? Quanto da sua vida chega a você através de uma tela, de segunda mão? Se a sua vida fosse transformada em um filme, você o assistiria? Como você se sente em situações de passividade forçada?


Como você é afetado pela agressão ininterrupta de comunicação simbólica – sonora, visual, impressa, murais, radio, vozes robóticas – enquanto você perambula por uma floresta de sinais? O que eles te urgem a fazer? Você já precisou de solitude, silêncio, contemplação? Você lembra o que é isso? Pensar por você mesmo, ao invés de reagir a estímulos? É difícil desviar o olhar?


Será que desviar o olhar não seria exatamente o que não é permitido? Onde você pode encontrar silêncio e solitude? Não barulho abafado, mas puro silêncio? Não solidão, mas uma solitude gentil? Com que frequência você já parou pra se fazer perguntas como essas? Você se surpreende cometendo atos de violência simbólica? Você já se sentiu solitário de um jeito que palavras não podem sequer expressar?


As vezes, você se sente prestes

a PERDER O CONTROLE?

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. será que isso é melhor que dar as respostas?
    parece que sim.

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  3. Eu respondi algumas, mas não tenho tempo para escrever todas respostas aqui.

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