21/11/2009

É possível fazer poesia

A guerrilha poética contra mesmice da expectativa média do ensino mediano só funciona mediante ataques surpresa. Lugares inesperados, momentos inverossímeis. Esse aí é de um menino que alguns anos depois decidiu arrancar as ondas do fundo do mar, porque estava cansado de esperar a maré. Saiu das provas para entrar na história.

Local
: Escola Politécnica da Bahia
Data: 27 de junho de 1931
Curso: Engenharia Civil
Matéria: Química
Questão: Disserte sobre as propriedades do hidrogênio – elemento.
Sua preparação no laboratório e na indústria.
Resposta:
De leveza no peso são capazes
Diversos elementos, vários gases
O hidrogênio, porém, é um gás que deve
Ter destaque, por ser o gás mais leve.
Combina-se com vários metalóides,
Com todos aliás, e os sais halóides,
Provêem de ácidos por aquele gás
Formados, reunindo-se aos metais.
Cloro e hidrogênio combinados dão
Um ácido ? o clorídrico ? e a explosão
Produzida por bela experiência
Pode ser de funesta conseqüência.
Vale a pena que seja aqui descrita
Essa experiência que acho tão bonita.
O desejado efeito se produz
Na escuridão, ausente toda luz.
O cloro ao lado do hidrogênio fica
Num vaso, e isso por forma alguma implica
Numa veloz combinação dos dois,
Porquanto a mesma só virá depois.
Então, do vaso em que se chegando à boca
Uma chama, ribomba, estruge, espoca
O violento estampido que anuncia
Pronta a combinação. À luz do dia
Faz-se a combinação rapidamente
(Nesse caso o perigo é iminente).
De uma notável propriedade goza:
Atravessa veloz qualquer prosa
Superfície e, por ser incomburente,
É queimado, não queima. A luz ardente
Que possui é de cor azul no tom,
E na harmonia química, o seu som
É típico e semelha um longo ronco
De um urso velho dorminhoco e bronco.
Autor: Carlos Marighella
Inimigo n° 1 da Ditadura Militar

Nenhum comentário:

Postar um comentário