Por Raoul Vaneigem
[Nota: esse panfleto foi publicado originalmente na França em 1995.]
Capítulo 1: Um Aviso aos Estudantes de Todas as Idades
A escola, a família, a fábrica, o quartel, e, por procuração, os hospital e a prisão, vem sendo as passagens inevitáveis através das quais a sociedade de consumo vem subordinando ao seu lucro o destino do assim chamado ser “humano”.
O governo que essa sociedade exerce sobre a natureza humana, ainda apaixonada pela liberdade da infância, coloca em seu devido lugar o crescimento e a felicidade que precedem – e atrasam em diversos graus – o cerco familiar, a oficina ou escritório, a instituição militar, o hospício, as casas dos condenados.
A educação perdeu o caráter repulsivo que ela tinha no século XIX e XX, quando quebrava espíritos e corpos de acordo com a dura realidade da eficiência e servidão, dando certa glória e glamour ao ato de educar por meio do trabalho forçado, da autoridade e da austeridade, e nunca por meio do prazer ou da paixão? Nada é mais certo, e não se pode negar que, em todo o aparente ímpeto da modernidade, um monte de idéias arcaicas continuam a manchar as vidas dos estudantes com sua infâmia.
A empresa escolar não tem obedecido, até os dias de hoje, a uma única preocupação: a de melhorar as técnicas de adestramento para que o animal possa se tornar um investimento lucrativo?
Nenhuma criança atravessa a soleira da porta de escola sem ser exposta ao risco de perder a si mesma. Isto é, de perder a vida exuberante, recheada com novos conhecimentos e maravilhas, que estaria ansiosa para ser alimentada, se não fosse esterilizada e privada de esperança sob o trabalho tedioso do conhecimento abstrato. Que motivação terrível deve ser ver como essas coisas brilhantes tão subitamente parecem opacas!
Aqui estão quatro muros. O consenso geral convém aos hipócritas; dentro desses muros, se é aprisionado, constrangido, culpado, julgado, honrado, punido, humilhado, rotulado, manipulado, afagado, violado, tratado abortivamente e deixado implorando por ajuda e socorro.
“Do que você está reclamando?” objetam os criadores de leis e decretos. “Não é esse o melhor modo de iniciar a juventude nas leis imutáveis que governam o mundo e a existência?” Sem dúvida. Mas por que deveriam os jovens se acomodarem a uma sociedade sem alegria e sem futuro, uma sociedade cujos adultos não tem nada além da sua resignação derrotada, que eles suportam com uma mistura de amargura e desconforto?
Continua....
Nenhum comentário:
Postar um comentário